quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Várias injustiças e a opção paulista de inundar os pobres

Luis Nassif - Sobre economia, política e notícias do Brasil e do Mundo
17/12/2009 - 08:08
A opção paulista de inundar os pobres
Por Ernesto Camelo
Da UOL Notícias
Comportas fechadas na barragem da Penha para proteger a marginal ajudaram a alagar a zona leste de SP

Fabiana Uchinaka

As seis comportas da barragem da Penha, na zona leste de São Paulo, foram completamente fechadas às 2h50 do dia 8 de dezembro, dia em que a cidade enfrentou fortes temporais e viu diversos pontos alagarem como há muito tempo não se via. Somente dois dias depois, às 17h20, todas as comportas foram abertas. Os dados, fornecidos pelo engenheiro responsável pela barragem, João Sérgio, indicam que houve uma clara escolha da empresa responsável: alagar os bairros pobres da zona leste para evitar o alagamento das marginais e do Cebolão, conjunto de obras que fica no encontro dos rios Tietê e Pinheiros.

“Mesmo fechando as comportas, encheu o [córrego] Aricanduva. Se eu não tivesse fechado aqui, teria alagado as marginais e toda São Paulo”, justificou Sérgio, que explicou que a decisão vem da direção da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia). Ele acrescentou ainda que no dia 9 duas comportas foram abertas às 10h10 e mais duas às 21h.

O engenheiro argumenta que cada barragem (são quatro em São Paulo: Móvel, Penha, Mogi das Cruzes, Ponte Nova) é responsável apenas por administrar o fluxo de água do local e não sabe o que acontece nos outros pontos, porque não há comunicação. Mas ele acredita que as comportas foram abertas nas barragens de cima, em Mogi, e isso influenciou no alagamento da região da zona leste.

“Não recebo informações de outras barragens. As de cima são administradas pela Sabesp e as de baixo pela Emae. Eu só respondo por essa barragem e às ordens da Emae”, disse. “Também acho estranho o nível da água não baixar aqui e não sei por que está indo para os bairros, mas não precisa ser especialista para ver que está assoreado [o rio]“.

Ele trabalha há quase 15 anos no local e conta que desde o governo de Orestes Quércia (1987-1991) não são colocadas dragas para desassorear o rio na parte que fica acima da barragem. “O governo tentou colocar de novo, mas a própria Secretaria de Meio Ambiente não deixou, porque não tinha bota-fora [local para despejar a terra retirada]“, afirmou.

O desassoreamento do rio daria mais velocidade ao escoamento da água e aumentaria a área de reserva de água perto da barragem, o que impediria o transbordamento para os bairros adjacentes.

Para Ronaldo Delfino de Souza, coordenador do Movimento de Urbanização e Legalização do Pantanal, o governo fez uma opção. “Ou alagava a marginal ou matava as pessoas no Pantanal. E matou”, disse. “E ainda bota a culpa nas moradias. O Estado só se preocupa com o escoamento de mercadorias, só pensa em rodovia. Vida humana não importa”.

Moradores e deputados estaduais fizeram nesta quarta-feira (17) uma inspeção no local para saber se a abertura das comportas tinha relação com o alagamento no Jardim Romano e no Jardim Pantanal, que já dura nove dias.

O movimento, formado por moradores de diversos bairros localizado na várzea do rio Tietê, acusa o governo do Estado e a prefeitura de manterem a água represada além do necessário como forma de obrigar as famílias a deixarem a região, onde será construído o Parque Linear da Várzea do Rio Tietê. Há anos, os moradores resistem em sair dali, porque dizem que o governo não apresenta um projeto habitacional concreto e apenas oferece uma bolsa-aluguel.

“Não era para as máquinas estarem trabalhando aqui? Cadê? Não tem um funcionário do governo aqui”, reclamou, apontando para as ilhas que aparecem no meio do rio, logo acima da barragem da Penha. As dragas são vistas somente na parte de baixo da construção.

“Os córregos do Pantanal já estavam muito cheios três dias antes da chuva. Como não abriram a barragem sabendo que ia chover?”, perguntou Souza, indignado. “O que a gente viu aqui é que não houve possibilidade de escoamento, porque a água ultrapassou o nível das comportas e não tinha velocidade para descer, não tinha gravidade”, concluiu.

Segundo os registros da barragem, no dia 8 a água ficou acima do nível das comportas por 5 a 6 horas. Sérgio explicou que a queda do rio Tietê é de apenas 4% e por isso a vazão demora cerca de 72 horas desde a barragem de Mogi das Cruzes até o centro da cidade — isso sem chuva. “É demorado, sempre foi”, disse.

“Imagina o que uma hora de comportas fechadas não faz de estrago lá no Pantanal”, falou Souza, diante dos dados. “Se fecha aqui, a água para de novo, perde velocidade e vai demorar mais 72 horas para descer”, afirmou.

Os deputados estaduais que acompanharam a inspeção concordam con a teoria dos moradores. “Foi feita uma escolha e a corda estourou do lado mais fraco”, afirmou o deputado estadual Raul Marcelo (PSOL). “É uma questão grave. A falta de comunicação e de um gerenciamento unificado são prova de uma falta de governância e de um planejamento na administração das barragens, o que levou, em grande parte, ao fato do bairro do Pantanal ter sido alagado”.

“Há uma estranha coincidência de que no momento da desocupação há um alagamento desses e ninguém consegue escoar a água. Não havia uma inundação dessas há 15 anos e o nível das águas está subindo mesmo sem chuva. É muito estranho e as autoridades têm que explicar”, completou o deputado estadual Adriano Diogo (PT).

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PÁTRIA MADRASTA VIL

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitelc oncorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'.
A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída em um livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da Unesco.

A redação

Como vencer a pobreza e a desigualdade
Por Clarice Zeitel Vianna Silva
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

PÁTRIA MADRASTA VIL

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência. .. Exagero de escassez... Contraditórios? ?
Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.
Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome.
Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar.
E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo.
Sem egoísmo. Cada um por todos...
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído?
Como gente... Ou como bicho?

sábado, 5 de dezembro de 2009

O Supremo Tribunal Federal vai ter que decidir se consagra ou se nega a soberania popular no Brasil.

Por Fernando Di Lascio



Se ainda nenhum conhecido e nem mesmo a mídia lhe avisou, cumpre-nos
alertar ao amigo e à amiga que está em curso no STF uma Ação de
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, a ADPF nº 196,
cuja defesa da realização do Plebiscito para instituição do Conselho
Distrital de Cidadãos no Município de Santo André transcende seus
próprios objetivos explícitos e impõe questionamento à Suprema Corte
para esclarecer se, e até que ponto, vigoram no país os preceitos
constitucionais da soberania popular e da autonomia municipal.



Na hipótese de prevalecer a concepção pura e simples desses preceitos,
sendo eles acatados em sua plenitude democrática, republicana e
federativa pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal, teremos a
garantia de que o Plebiscito de Santo André haverá de ser confirmado
e, mais ainda, a certeza de que sua realização constituir-se-á em
marco histórico na democracia brasileira por ser a primeira vez em que
o efetivo exercício da democracia direta é tentado em território
brasileiro, à luz da Constituição Federal de 1988, das legislações
estaduais e federais concernentes e, agora, da Lei Orgânica do
Município.



Pela primeira vez porque de acordo esse novo mecanismo que foi
constitucionalmente estabelecido, em Santo André a Autorização do
Poder Legislativo para a realização de plebiscitos e referendos é
agora uma obrigação da Mesa Diretora da Câmara se requerido em petição
específica assinada por parcela significativa do povo e, assim, deve
ser concedida independentemente de qualquer outro fator, até mesmo da
vontade de governantes e legisladores. E o mais importante, é que o
resultado do escrutínio subsequente é para valer, ou seja, caso
aprovado nas urnas pela maioria dos eleitores, torna-se imperativa uma
ação da Administração Pública, ou uma outorga do Poder Legislativo,
para satisfazer imediata e integralmente àquela deliberação popular.



Embora tenhamos demorado mais de vinte anos para chegar a esta
fórmula, hoje temos claro que ela pode ser a matriz da verdadeira
reforma política no país porque não há outra maneira de se fazer
democracia sem honrar a soberania popular aceitando que “todo o poder
emana do povo e em seu nome será exercido diretamente ...”,
estabelecido logo no Artigo 1º, Parágrafo Único da nossa Constituição
e aceitando, também, que o exercício dessa soberania só poderá ocorrer
através dos plebiscitos e referendos estabelecidos no Art. 14 da mesma
Constituição de 88, porém, requeridos legitima e diretamente por
parcela significativa do próprio povo.



Esta é uma reforma política imprescindível porque, excetuando-se o
caso em tela, até aqui prevalece a noção de que a realização de
plebiscitos ou referendos, em qualquer canto do país, depende
exclusivamente da aprovação da maioria dos membros do Poder
Legislativo, ou seja, o exercício da nossa democracia “direta”, para
quase todos os cidadãos brasileiros depende, ainda, da vontade e dos
acordos de conveniência dos políticos eleitos.



Fato é que o Plebiscito de Santo André, conclamado por mais de 30.000
cidadãos representando índice superior a 5% do eleitorado local, foi
legitima e legalmente autorizado pelo Poder Legislativo da cidade,
respeitando todas as Leis estaduais e federais, razões mais do que
suficientes para nos fazer crer que sua a realização, até aqui negada
pela Justiça Eleitoral, haverá de ser agora confirmada pelo STF nesta
Ação em curso.



Isto porque, para negar ao povo de Santo André o seu direito à
realização do aludido plebiscito, o Supremo Tribunal Federal haverá de
negar também, não apenas um, mas ambos os preceitos democráticos
citados, quais sejam, a soberania popular e a autonomia municipal,
princípios estes que serviram de base e fundamentaram o legislador na
elaboração da Emenda 47 que regulamentou a realização de referendos e
plebiscitos para assuntos de relevante importância na alçada daquele
Município.



Muito embora nos agrade pensar que a Suprema Corte não possa negar
esse direito ao povo brasileiro, sabemos da possibilidade de que
divergências ideológicas entre os Ministros Julgadores possam
inspirar, num determinado grupo, posições eventualmente contrárias à
prática da democracia direta no país. Mas neste momento é impossível
desenhar um cenário resultante dessas suposições.



Consequentemente existe mesmo um risco real do pior acontecer e esta
possibilidade está ressoando como alarme na consciência democrática
nacional e despertando uma onda de manifestações de simpatia e apoio
de Partidos Políticos, da OAB, da Igreja Católica, de inúmeras
organizações sociais e de alguns dos mais importantes juristas
brasileiros, consagrados defensores da República, da democracia e dos
direitos humanos no Brasil como os doutores Fábio Konder Comparato,
Dalmo de Abreu Dallari, Antonio Tito Costa, Alexandre de Moraes e
outros, a esta Causa que não é do povo andreense, nem do povo
paulista. É do povo brasileiro.



Portanto amigo(a) previna-se e posicione-se pois se acontecer do nosso
Supremo Tribunal Federal negar a realização do Plebiscito de Santo
André, com o seu “poder vinculante” tal decisão poderá barrar qualquer
nova tentativa de exercício da soberania do povo brasileiro
consagrando, assim, a autocracia dos poderosos de plantão. Daí em
diante, pelo menos duas consequências podemos antecipar para a próxima
década: primeiro, um adeus à possibilidade de evoluirmos para uma
efetiva democracia participativa no país e, segundo, será perenizada
na sociedade a cultura da corrupção.

sábado, 14 de novembro de 2009

Claude Lévi-Strauss


Dêem uma olhada,

Atachado, o livro TRISTES TÓPICOS (1955) , de Claude Lévi-Strauss. Abaixo, artigo da folha vertido do New York Times sobre vida e obra do grande antropólogo francês.

Leia obituário do "New York Times" sobre Claude Lévi-Strauss

EDWARD ROTHSTEIN do New York Times

Claude Lévi-Strauss, o antropólogo francês cujos estudos revolucionários sobre aquele que até então era visto como "homem primitivo" transformaram a compreensão ocidental da natureza da cultura, dos costumes e da civilização, morreu aos cem anos de idade.

Seu filho Laurent disse que Lévi-Strauss morreu de parada cardíaca no fim de semana em sua casa em Paris. Sua morte foi anunciada na terça-feira, no mesmo dia em que ele foi sepultado no vilarejo de Lignerolles, na região da Côte-d'Or, a sudeste de Paris, onde ele tinha uma casa de campo.

"Ele tinha expressado o desejo de ter um funeral discreto e sóbrio, com seus familiares, em sua casa de campo", disse seu filho. "Ele era apegado a este lugar; gostava de fazer caminhadas na floresta, e o cemitério onde foi enterrado fica ao lado dessa floresta."

Pensador marcante e de enorme influência, Lévi-Strauss, com seus estudos das mitologias de tribos primitivas, transformou a maneira como o século 20 passou a compreender a própria civilização. Ele argumentou que as mitologias tribais revelam sistemas lógicos de sutileza notável, exibindo qualidades mentais racionais tão sofisticadas quanto as das sociedades ocidentais.

Lévi-Strauss rejeitava a ideia de que as diferenças entre sociedades não fossem importantes, mas se concentrava nos aspectos comuns das tentativas da humanidade de entender o mundo. Ele se tornou o maior expoente do chamado estruturalismo, uma escola de pensamento segundo a qual "estruturas" universais seriam subjacentes a toda a atividade humana, dando forma a culturas e criações aparentemente díspares.

Seu trabalho exerceu influência profunda até mesmo sobre seus críticos, dos quais houve muitos. Não houve sucessor comparável a ele na França. E seus escritos --que misturam pedantismo e poesia e são repletos de justaposições ousadas, argumentos complexos e metáforas elaboradas-- se assemelham a muito pouco do que veio antes na antropologia.

"As pessoas se dão conta de que ele é um dos grandes heróis intelectuais do século 20", disse em novembro passado Philippe Descola, presidente do departamento de antropologia do Collège de France, em entrevista ao "New York Times" no centenário do nascimento de Lévi-Strauss. Lévi-Strauss era tão reverenciado que a ocasião foi comemorada em pelo menos 25 países.

Descendente de uma família judaica francesa artística e distinta, Lévi-Strauss era um intelectual francês emblemático, tão à vontade na esfera pública quanto no mundo acadêmico. Ele lecionou em universidades de Paris, Nova York e São Paulo e também trabalhou para as Nações Unidas e para o governo francês.

Seu legado é imponente. "Mitológicas", sua obra em quatro volumes sobre a estrutura da mitologia indígena nas Américas, procura fazer nada menos que uma interpretação do mundo da cultura e dos costumes, moldada pela análise de várias centenas de mitos de tribos e tradições pouco conhecidas. Os volumes --"O Cru e o Cozido", "Do Mel às Cinzas", "A Origem dos Modos à Mesa" e "O Homem Nu", publicados entre 1964 e 1971-- desafiam o leitor com seu entremear complexo de temas e detalhes.

Na análise que fazia dos mitos e da cultura, Lévi-Strauss podia contrastar imagens de macacos e onças; analisar as diferenças de significado entre alimentos assados e fervidos em água (os canibais, ele sugeriu, tendiam a ferver seus amigos e assar seus inimigos) e traçar ligações entre histórias mitológicas esdrúxulas e complexas leis de casamento e parentesco.

Muitos de seus livros incluem diagramas que se assemelham a mapas de geometria interestelar, fórmulas que evocam técnicas matemáticas e fotos em preto e branco de rostos escarificados e rituais exóticos, feitas por ele durante seus trabalhos de campo.

"O Pensamento Selvagem"

Suas interpretações de mitos norte e sul-americanos foram fundamentais para transformar a visão ocidental das chamadas sociedades primitivas. Lévi-Strauss começou a desafiar o pensamento convencional a respeito destas pouco depois de iniciar suas pesquisas antropológicas, na década de 1930 --uma experiência que se tornou a base de um livro aclamado lançado em 1955, "Tristes Trópicos", uma espécie de meditação antropológica baseada em suas viagens no Brasil e em outras regiões.

A visão comumente aceita era de que as sociedades primitivas eram intelectualmente pouco imaginativas e temperamentalmente irracionais, baseando suas abordagens à vida e à religião na busca pela satisfação de necessidades urgentes de alimento, roupa e abrigo.

Lévi-Strauss resgatou os objetos de seus estudos dessa visão limitada. Começando com as tribos cadiuéu e bororo de Mato Grosso, onde ele fez seus primeiros e fundamentais trabalhos de campo, Lévi-Strauss identificou entre eles uma busca obstinada não apenas por satisfazer suas necessidades materiais, mas também por compreender origens; uma lógica sofisticada que regia até mesmo os mitos mais bizarros, e um senso implícito de ordem e desígnio, mesmo entre tribos que praticavam a guerra de maneira implacável.

Seu trabalho elevou o status da "mente selvagem", expressão que se tornaria o título inglês ("The Savage Mind") de uma de suas obras mais contundentes, "O Pensamento Selvagem" (1962).

"A sede de conhecimento objetivo", escreveu, "é um dos aspectos mais comumente ignorados do pensamento das pessoas que chamamos de 'primitivas'."

O mundo das tribos primitivas estava desaparecendo rapidamente. Entre 1900 e 1950, mais de 90 tribos e 15 línguas tinham deixado de existir, apenas no Brasil. Esse era outro dos temas recorrentes de Lévi-Strauss. Ele receava o crescimento de uma "civilização massificada", de uma "monocultura" moderna. Às vezes expressava uma repulsa irritada pelo Ocidente e "sua própria imundície, atirada no rosto da humanidade".

Nessa aparente exaltação da mente selvagem e denigrescimento da modernidade ocidental, Lévi-Strauss escrevia dentro da tradição do romantismo francês, inspirado pelo filósofo setecentista Jean-Jacques Rousseau, a quem reverenciava. Foi uma visão que ajudou a moldar sua reputação pública na era do romantismo contracultural dos anos 1960 e 1970.

Mas esse romantismo simplificado, além do relativismo cultural que ganhou forma nas décadas seguintes, também era uma distorção de suas ideias. Para Lévi-Strauss, o selvagem não é intrisecamente nobre ou de qualquer maneira "mais próximo da natureza". Lévi-Strauss se mostrou devastador, por exemplo, em suas descrições dos cadiuéus, que retratou como uma tribo que se rebelava contra a natureza --e, portanto, estava condenada-- a tal ponto que evitava a procriação, optando por "reproduzir-se" por meio do sequestro de crianças de tribos inimigas.

Suas descrições de tribos indígenas das Américas do Norte e do Sul guardam pouca relação com os clichês sentimentais e bucólicos que se tornaram comuns. Lévi-Strauss também traçava distinções nítidas entre o primitivo e o moderno, focando no desenvolvimento da escrita e da consciência histórica.

Foi uma consciência da história, a seu ver, que teria permitido o desenvolvimento da ciência e a evolução e expansão do Ocidente. Mas ele temia pelo destino do Ocidente, que, segundo escreveu no "New York Review of Books", estava "se permitindo esquecer ou destruir seu próprio legado". Ele também sugeriu que, com a perda da potência do mito no Ocidente moderno, a música teria assumido a função do mito. A música, argumentou, com seu poder narrativo primal, possui a capacidade de sugerir as forças e ideias conflitantes que estão nos fundamentos da sociedade.

Mas Lévi-Strauss rejeitou a ideia de Rousseau de que os problemas da humanidade decorrem das distorções humanas da natureza. Na visão dele, não existe alternativa a essas distorções. Cada sociedade precisa se criar a partir da matéria-prima da natureza, ele pensava, tendo a lei e a razão como suas ferramentas essenciais. Essa aplicação da razão, ele argumentava, cria estruturas universais que são encontradas em todas as culturas e todos os tempos.

Lévi-Strauss se tornou conhecido como estruturalista devido a sua convicção de que existe uma unidade estrutural subjacente a toda a criação humana de mitos, e ele demonstrou como esses motivos universais se expressam nas sociedades, até mesmo no desenho espacial de uma aldeia.

Para Lévi-Strauss, a mitologia de todas as culturas é erguida em torno de oposições: quente e frio, cru e cozido, animal e humano. E é por meio desses conceitos opostos, "binários", disse ele, que a humanidade interpreta o mundo.

Era tudo muito diferente das questões que até então preocupavam a maioria dos antropólogos. A antropologia até então havia tradicionalmente buscado trazer à tona as diferenças entre culturas, e não descobrir suas estruturas universais. Ela se preocupara não com ideias abstratas, mas com as particularidades de rituais e costumes, com sua coleta e catalogação.

A abordagem "estrutural" de Lévi-Strauss, buscando elementos universais da mente humana, chocou-se com aquela visão da antropologia. Lévi-Strauss não procurou determinar as diversas finalidades das práticas e dos rituais de uma sociedade. Jamais se interessou pelo tipo de trabalho de campo empreendido por antropólogos de uma geração posterior, como Clifford Geertz, que observaram e analisaram sociedades como que de seu interior. (Ele iniciou "Tristes Trópicos" com a declaração "odeio viajar e odeio exploradores".)

Ideias que agitaram seu campo

Como ele escreveu em "O Cru e o Cozido" (1964), Lévi-Strauss considerou que tinha levado "a pesquisa etnográfica na direção da psicologia, da lógica e da filosofia".

Em palestras dadas pela rádio à Canadian Broadcasting Corporation em 1977 (publicadas como "Myth and Meaning", Mito e Significado), Lévi-Strauss demonstrou como poderia ser feita uma análise estrutural de um mito. Ele citou um relato segundo o qual no século 17, no Peru, quando fazia fria intenso, um sacerdote convocava todos os que tinham nascido pelos pés primeiro, que tivessem lábio leporino ou fossem gêmeos. Essas pessoas então eram acusadas de serem responsáveis pelo tempo frio e eram ordenadas a fazer penitência. Mas por que esses grupos? Por que gêmeos e pessoas com lábio leporino?

Lévi-Strauss citou uma série de mitos norte-americanos que associam gêmeos a forças naturais opostas: ameaça e esperança para o futuro, perigo e expectativa. Um mito, por exemplo, inclui uma lebre mágica, um coelho, cujo focinho é rachado em uma briga, resultando literalmente em um lábio leporino, o que sugere uma condição gêmea incipiente. Com suas injunções, o sacerdote peruano parecia ter consciência de associações entre desordem cósmica e o poder latente dos gêmeos.

As ideias de Lévi-Strauss abalaram o campo da antropologia. Mas seus críticos foram muitos. Eles o atacaram por ignorar a história e a geografia, empregando mitos de um lugar e tempo para ajudar a lançar luz sobre mitos de outro, sem demonstrar qualquer conexão ou influência direta.

Em uma influente análise crítica da obra de Lévi-Strauss escrita em 1970, o antropólogo da Universidade Cambridge Edmund Leach escreveu: "Mesmo hoje, apesar de seu prestígio imenso, os críticos entre seus colegas de profissão superam muito em número os discípulos".

O próprio Leach duvidava de que Lévi-Strauss, durante seus trabalhos de campo no Brasil, pudesse ter conversado com "qualquer um de seus informantes indígenas em sua língua nativa" ou permanecido por tempo suficiente para confirmar suas primeiras impressões. Alguns dos argumentos teóricos de Lévi-Strauss, incluindo suas explicações sobre os canibais e seus gostos, foram contestados por pesquisas empíricas.

Lévi-Strauss reconheceu que sua força estava nas interpretações que fez do que descobriu. Ele pensava que seus críticos não tinham dado crédito suficiente ao impacto cumulativo dessas especulações. "Por que não admiti-lo?", disse certa vez a um entrevistador, Didier Eribon, em "De Perto e de Longe". "Não levei muito tempo a descobrir que eu era um homem feito mais para os estudos que para o trabalho em campo."

Claude Lévi-Strauss nasceu em 28 de novembro de 1908, em Bruxelas, filho de Raymond Lévi-Strauss e de Emma Levy, que estavam vivendo na Bélgica na época. Ele cresceu na França, perto de Versalhes, onde seu avô era rabino e seu pai, pintor retratista. Seu bisavô Isaac Strauss foi um violonista em Estrasburgo que foi mencionado por Berlioz em suas memórias. Quando criança, Lévi-Strauss gostava de colecionar objetos de toda espécie e os justapor. "Eu tinha paixão por curiosidades exóticas", disse em "De Perto e de Longe". "Minhas pequenas economias iam todas parar em lojas de artigos de segunda mão." Um conjunto de antiguidades da coleção de sua família, ele contou, foi exposto no Museu de Cluny, em Paris; outros objetos da coleção foram roubados depois de a França ser dominada pelos nazistas, em 1940. Entre 1927 e 1932, Lévi-Strauss se graduou em direito e filosofia na Universidade de Paris, depois lecionou em um colégio de segundo grau local, o Liceu Janson de Sailly, onde seus colegas professores incluíram Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Mais tarde ele se tornou professor de sociologia na Universidade de São Paulo, de influência francesa.

Gosto pela aventura

Decidido a tornar-se antropólogo, ele começou a fazer viagens pelo interior do Brasil, acompanhado por Diana Dreyfus, com que se casou em 1932. "Eu procurava uma maneira de conciliar minha formação profissional com meu gosto pela aventura", disse ele em "De Perto e de Longe", acrescentando: "Senti que estava revivendo as aventuras dos primeiros exploradores do século 16".

Seu casamento com Dreyfus terminou em divórcio, assim como um casamento subsequente, em 1946, com Rose-Marie Ullmo, com quem teve seu filho Laurent. Em 1954 Lévi-Strauss se casou com Monique Roman, e também eles tiveram um filho, Matthieu. Além de Laurent, Lévi-Strauss deixa sua esposa, Matthieu e os dois filhos de Matthieu.

Lévi-Strauss deixou de lecionar em 1937 para dedicar-se a trabalhos de campo, retornando à França em 1939 para levar seus estudos adiante. Mas, na véspera da Segunda Guerra Mundial, foi convocado pelo Exército francês para atuar como contato com as tropas britânicas. Em "Tristes Trópicos", ele descreve sua "retirada desordenada" da Linha Maginot depois da invasão da França por Hitler, fugindo em caminhões de gado e dormindo em "currais de ovelhas".

Em 1941 Lévi-Strauss foi convidado para ser professor visitante na Nova Escola de Pesquisas Sociais, em Nova York, com ajuda da Fundação Rockefeller. Ele descreveu esse período como "o mais frutífero de minha vida". Passava tempo na sala de leitura da Biblioteca Pública de Nova York e tornou-se amigo do respeitado antropólogo americano, mas nascido na Alemanha, Franz Boas e do linguista (e estruturalista) nascido na Rússia Roman Jakobson.

Ele também passou a integrar um círculo de artistas e surrealistas que incluía Max Ernst, André Breton e Dolorès Vanetti, futura amante de Jean-Paul Sartre. Vanetti, disse Lévi-Strauss em "Conversations", compartilhava sua "paixão por objetos", e os dois faziam visitas regulares a uma loja de antiguidades de Manhattan que vendia artefatos do Noroeste Pacífico. Essas excursões deixaram Lévi-Strauss com "a impressão de que tudo o que há de essencial nos tesouros artísticos da humanidade podia ser encontrado em Nova York".

Após a guerra, Lévi-Strauss estava tão determinado a levar adiante seus estudos em Nova York que recebeu do governo francês o cargo de adido cultural, que exerceu até 1947. Retornando à França, recebeu um doutorado em letras da Universidade de Paris em 1948 e foi curador associado do Museu do Homem, em Paris, em 1948 e 1949. Seu primeiro grande livro, "As Estruturas Elementares do Parentesco", foi publicado em 1949. (Alguns anos mais tarde, o júri do Prêmio Goncourt, o mais famoso prêmio literário da França, disse que teria dado o prêmio a "Tristes Trópicos", seu híbrido de livro de memórias e relato de viagens antropológico, se tivesse sido ficção.)

Depois de a Fundação Rockefeller ter feito uma doação à École Pratique des Hautes Études, em Paris, para a criação de um departamento de estudos sociais e econômicos, Lévi-Strauss tornou-se o diretor de estudos da escola, cargo no qual permaneceu de 1950 a 1974.

Seguiram-se outros cargos. Entre 1953 e 1960, Lévi-Strauss foi secretário-geral do Conselho Internacional de Ciência Social da Unesco. Em 1959 ele foi nomeado professor do Collège de France. Foi eleito para a Academia Francesa em 1973. Em 1960 Lévi-Strauss já tinha fundado o "L'Homme", periódico que seguiu o modelo da "The American Anthropologist".

Nos anos 1980 o estruturalismo, conforme visualizado por Lévi-Strauss, deu lugar aos pensadores franceses que se tornaram conhecidos como pós-estruturalistas: escritores como Michel Foucault, Roland Barthes e Jacques Derrida. Eles rejeitavam a ideia das estruturas universais atemporais e argumentavam que história e experiência eram muito mais importantes que leis universais na formação da consciência humana.

"A sociedade francesa, e a parisiense em especial, é voraz", respondeu Lévi-Strauss. "A cada cinco anos, mais ou menos, sente a necessidade de encher sua boca com algo novo. Assim, cinco anos atrás era o estruturalismo, e agora é outra coisa. Praticamente não ouso mais usar a palavra 'estruturalista', tão gravemente ela foi deformada. Eu certamente não sou o pai do estruturalismo."

Mas é possível que a versão de estruturalismo proposta por Lévi-Strauss acabe sobrevivendo ao pós-estruturalismo, assim como Lévi-Strauss sobreviveu à maioria de seus expoentes. Sua obra monumental "Mitológicas" pode até assegurar seu legado, se não como explicador das mitologias, como seu criador.

O volume final de "Mitológicas" termina com a sugestão de que a lógica da mitologia é tão poderosa que os mitos quase têm uma vida independente dos povos que os contam. Na visão de Lévi-Strauss, os mitos falam através da humanidade, e, por sua vez, se tornam as ferramentas com as quais a humanidade se concilia com o maior mistério do mundo: a possibilidade de não ser, o fardo da mortalidade.

Colaborou Nadim Audi, de Paris

Tradução de Clara Allain

Este texto foi publicado originalmente no jornal "The New York Times"

Bons pensamentos

Indicado por:

Danilo Melo


caros amigos, segue um artigo que penso ser bacana,

sombra do medo em flor
Escrito por Fausto Wolff
Seg, 08 de Setembro de 2008 02:00
Dêem a chefia da portaria ao mais dócil empregado e logo ele se tornará um tirano

Já escrevi em algum lugar que, enquanto não nos revoltarmos contra o conceito de democracia que considera sagrado o direito de uma minoria escravizar o resto, jamais chegaremos à condição de seres humanos. Seremos sempre caricaturas, títeres perdidos na ventania, sempre com cara de “desculpe, não era bem isso que eu queria dizer”.

Enquanto não se der a revolução da humanidade contra a tirania, enquanto deixarmos que nos humilhem para que possamos continuar vivendo, teremos de suportar algumas imperfeições, certos espinhos colocados em nossos sapatos ainda na infância que não podemos ou não queremos tirar.

Uma dessas imperfeições é a constatação de que, à medida que envelhecemos, vamos nos tornando mais medrosos. Quando deveria acontecer o contrário: à medida que envelhece, o homem deveria tornar-se mais corajoso, porque mais sábio, mais justo, mais conhecedor dos seus deveres e direitos.

Quando eu tinha pouco mais de 20 anos, todos os dentes e era um sujeito bonito, era também dado a papagaiadas. Certa vez, ainda noivo (havia noivados e até virgens naquela época), estava no falecido Bar Castelinho, tomando um chope com minha futura mulher, quando um dos donos de uma revista para a qual eu escrevia sentou-se à nossa mesa e se comportou de forma grosseira.

Gentilmente, mandei que se retirasse, pois já tinha de aturá-lo o dia inteiro e não pretendia fazer isso quando estava namorando. Fui despedido no dia seguinte. Na hora, a sensação foi boa, mas eu era muito jovem para perceber que os rateios estavam contra mim.

Outra imperfeição: ser burro, viver e conhecer o mínimo do seu potencial energético interior e, além disso, ter de suportar a consciência da sua mortalidade. Algumas pessoas percebem isso, mas, como são ignorantes, aceitam o princípio nada otimista de que a vida é um absurdo porque acaba na morte e, como dizia Camus, o homem vive e não é feliz. Essa constatação é tão angustiante que, sem uma garrafa ao alcance da mão, é difícil resistir à tentação de não dar um tiro na têmpora.

Hoje em dia, em pleno século 21, a grande maioria de escravos aceita essa condição fingindo não saber dela, fingindo que a vida é assim mesmo. Uns entram com o pé e os outros com o popô, uns com o pescoço e os outros com a foice. Excetuando os psicopatas que, aparentemente, já nascem tortos, alguns poucos escravos se rebelam e saem fazendo bobagens: roubando, assaltando, matando, estuprando.

Quando isso acontece, todos ficam com cara de tacho, fingindo que não têm nada a ver com o peixe. Em seguida, os políticos pedem “responsabilidade criminal aos 16 anos”. Logo, pedirão responsabilidade aos 15, 14 e cosi via. Cosi via significa que aumentará o número de crianças assassinadas ao nascer; aceitação literal da loucura religiosa de que o homem já nasce pecador. Claro que essa lei só valerá para crianças pobres.

Sou contra a pena de morte, mas, como a tragédia, mesmo quando coletiva, é sempre individual, o que eu faria se matassem alguém indispensável à minha vida? E se alguém tirasse a vida de uma pessoa e, ao fazer isso, me deixasse aleijado interiormente pelos anos que me restam?

Como não acredito na Justiça e também não acredito que podemos julgar oficialmente os efeitos sem punir as causas, eu simplesmente mataria o assassino. E o faria pessoalmente, com as minhas mãos.

Em seguida, cidadão exemplar que sou, me entregaria ao juiz. Não teria resolvido nada, mas como sou humano em estágio ainda bárbaro, pelo menos isso atenuaria um pouco a minha dor.

Como vejo a coisa hoje? Dêem a chefia da portaria de um edifício ao mais dócil dos empregados e logo ele se tornará um tirano para agradar ao poder imediatamente acima dele.

O poder ama a si mesmo e aos poderosos. É tão implacável na sua injustiça que consegue convencer mais de 100 milhões de brasileiros adultos de que devem escolher entre o algoz da esquerda e o da direita. E nada acontece.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

MST e laranjas 9 de outubro de 2009

Por Maurício Caleiro*

O MST é detestado por todos: da direita ruralista à esquerda chavista, passando por tucanos, petistas, psolentos, verdes, azuis e amarelos. Mesmo os que fingem apoiar o MST o detestam.
Isso porque há uma antipatia ancestral e inata contra o MST, esse arquétipo de nosso inconsciente coletivo, esse cancro irremovível que insiste em nos lembrar, mesmo nos períodos de bonança, que fomos o último país do mundo a abolir a escravidão e continuamos sendo uma porcaria de nação que jamais fez a reforma agrária.
O MST é o espelho que reflete o que não queremos ver.
Há duas questões, na vida nacional, que contradizem qualquer discurso político da boca pra fora e revelam qual é, mesmo, de verdade, a tendência ideologica de cada um de nós, brasileiros: a violência urbana e o MST. Diante deles, aqueles que até ontem pareciam ser os mais democráticos e politicamente esclarecidos passam a defender que se toque fogo nas favelas, que se mate de vez esse bando de baderneiros do campo, porra, carajo, mierda malditos direitos humanos!
O MST nos faz atentar para o fato de que em cada um de nós há um Esteban de A Casa dos Espíritos; há o ditador, cuja existência atravessa os séculos, de que nos fala Gabriel García Márquez em O Outono do Patriarca; há os traços irremovíveis de nossa patriarcalidade latinoamericana, que indistingue sexo, raça, faixa etária ou classe social:
O MST é o negro amarrado no tronco, que chicoteamos com prazer e volúpia.
O MST é Canudos redivivo e atomizado em pleno século XXI.
O MST é a Geni da música do Chico Buarque - boa pra apanhar, feita pra cuspir ? com a diferença de que, para frustração de nossa maledicência, jamais se deita com o comandante do zeppelin gigante.
E, acima de tudo, O MST é um assassino de laranjas!
E ainda que as laranjas fossem transgênicas, corporativas, grilheiras, estivessem podres, com fungos, corrimento, caspa e mau hálito, eles têm de pagar pela chacina cítrica! Chega de impunidade! Como o João Dória Jr., cansei!


Jornalismo pungente
Afinal, foi tudo registrado em imagens ? e imagens, como sabemos, não mentem. Estas, por sua vez, foram exibidas numa reportagem pungente do Jornal Nacional - mais um grande momento da mídia brasileira -, merecedora, no mínimo, do prêmio Pulitzer. Categoria: manipulação jornalística. Fátima Bernardes fez aquela cara de dominatrix indignada; seu marido soergueu uma das sobrancelhas por sob a mecha branca e, além dos litros de secreção vaginal a inundar calcinhas em pleno sofá da sala, o gesto trouxe à tona a verdade inextricável: os ?agentes? do MST são um bando de bárbaros.
(Para quem não viu a reportagem, informo,a bem da verdade, que ela cumpriu à risca as regras do bom jornalismo: após uns dez minutos de imagens e depoimentos acusando o MST, Fátima leu, com cara de quem comeu jiló com banana verde, uma nota de 10 segundos do MST. Isso se chama, em globalês, ouvir o outro lado.)
Desde então, setores da própria esquerda cobram do MST sensatez, inteligência, que não dirija seu exército nuclear assassino contra os pobres pés de laranja indefesos justo agora, que os ruralistas tentam instalar, pela 3ª vez, como se as leis fossem uma questão de tanto bate até que fura, uma CPI contra o movimento (afinal, é preciso investigar porque o governo ?dá? R$155 milhões a ?entidades ligadas ao MST?, mesmo que ninguém nunca venha a público esclarecer como obteve tal informação, como chegou a esse número, que entidades são essas nem qual o grau de sua ligação com o MST: O Incra, por exemplo, está nessa lista como ligado ao MST?).


A insensatez dos miseráveis
Ora, o MST é um movimento social nascido da miséria, da necessidade e do desespero. Eles estão em plena luta contra uma estrutura agrária arcaica e concentradora. Não se pode esperar sensatez de movimentos sociais da base da pirâmide social, que lutam por um direito básico do ser humano. Pelo contrário: é justamente a insensatez, a ousadia, a coragem de desafiar convenções que faz do MST um dos únicos movimentos sociais de fato transgressores na história brasileira. Pois quem só protesta de acordo com os termos determinados pelo Poder não está protestando de fato, mas sendo manipulado. Se os perigosos agentes vermelhos do MST tivessem sensatez, vestiriam um terno e iriam para o Congresso fazer conchavos, não ficariam duelando com moinhos de vento, digo, pés de laranja.
Mas é justamente por isso que o MST incomoda a tantos: ele, ao contrário de nós, ousa desafiar as convenções: ele é o membro rebelde de nossa sociedade que transgride o tabu e destroi o totem. Portanto, para restituição da ordem capitalista/patriarcal e para aplacar nossa inveja reprimida, ele tem de ser punido. Ele é o outro.Quantos de nós já se perguntaram como é viver sob lonas e gravetos, à beira das estradas, em lugares ermos e remotos, sujeito a ataques noturnos repentinos dos tanto que os detestam? Quantos já permaneceram num acampamento do MST por mais do que um dia, observando o que comem (e, sobretudo, o que deixam de comer), o que lhes falta, como são suas condições de vida?
Poucos, muito poucos, não é mesmo? Até porque nem a sobrancelha erótica do Bonner nem o olhar-chicote da Fátima jamais se interessaram pelo desespero das mães procurando, aos gritos, pelos filhos enquanto o acampamento arde em fogo às 3 da madrugada, nem pelas crianças de 3,4 anos que amanhecem coberta de hematomas dos chutes desferidos pelos jagunços invasores, ao lado do corpo de seus pais, assassinados covardemente pelas costas e cujo sangue avermelha o rio.
Para estes, resta, desde sempre, a mesma cova ancestral, com palmos medidas, como a parte que lhes cabe neste latifúndio.
Para a mídia, pés de laranja valem mais do que a vida humana, quero dizer, a vida subumana de um miserável que cometeu a ousadia suprema de lutar para reverter sua situação.
Mas os bárbaros, claro está, são o MST.
Por isso, haja o que houver, o MST é o culpado.


* Maurício Caleiro é jornalista e cineasta

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Blog Impertinências, do Prof. Antonio Celso Ferreira

"Olá amigos,



Olá amigos,

recomendo uma visita ao Blog Impertinências, do prof. Antonio Celso Ferreira. Professor Títular da Unesp de Assis, assessor da Editora da Unesp e autor dos seguintes livros: A conquista do sertão (Atual); A epopéia bandeirante: letrados, instituições e invenção Histórica (Ed. Unesp); Um Eldorado Errante: São Paulo na ficção histórica de Oswald de Andrade (Ed. Unesp).

Em seu blog encontraremos texto e comentários relacionados a cultura, política, universidade e historiografia. Tratados de uma forma provocadora e impertinente, é claro.

Boa leitura, abraço e segue o endereço.

http://www.acimpertinencias.blogspot.com/

Prof. Celso Carvalho Jr


Pessoal vamos visitar o blog
Recomendado pelo Prof, Celso Carvalho Jr., nosso querido Celsinho

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Festa / Fotos





Palestra dia 18/09



Tema: A sociologia de Florestan Fernandes
Palestrante: Prof. Dr. Ricardo Constante Martins

A última noite da VII Semana de Ciências Sociais recebeu o Prof. Dr. Rodrigo Constante Martins para palestrar sobre o tema “A Sociologia de Florestan Fernandes”. Rodrigo já ressaltou logo no início das considerações que o trabalho de Florestan Fernandes deve ser encarado pela perspectiva de uma sociologia desafiadora, de atuação política e dedicada à área da educação.
O palestrante frisou que a importância do trabalho do sociólogo também se deve ao fato dele inaugurar uma nova modalidade de Sociologia Cientifica no Brasil, modalidade que se formalizou com o início das atividades da Escola Paulista de Sociologia fundada por Florestan entre as décadas de 50 e 60.
Ricardo Martins ressaltou que o sociólogo desenvolveu uma capacidade intelectual muito grande para superar dificuldades em sua teoria que geralmente são insuperáveis até mesmo nos trabalhos clássicos.
Em um rápido retrospecto da vida de Florestan, Ricardo destacou que o professor estudou praticamente como autodidata até os 18 anos, enquanto trabalhava para ajudar a mãe com as contas da casa. Ao terminar o supletivo foi aceito no curso de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, curso até então destinado a formar a elite da classe intelectual paulistana. Firma-se como professor titular na universidade onde conclui o doutorado. Entre seus alunos merecem destaque o pensador Octavio Ianni e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na USP torna-se o grande nome da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, porém, no fim da década de 60, é aposentado pela ditadura militar e vai para os Estados Unidos e logo após para o Canadá. Na década de 70 retorna ao Brasil onde encontra abrigo na PUC. Nos anos 80 ingressa na política, funda o Partido dos Trabalhadores e se elege deputado.
Um dos ícones de seu trabalho é a obra “A integração do negro nas sociedades de classe”, que lhe rendeu a cadeira de professor titular na Universidade de São Paulo. Este livro traz a inclusão de algumas categorias no debate intelectual brasileiro, como “raça”. Além da integração do negro na sociedade competitiva, a obra também contempla o debate do “mito da democracia nacional no Brasil”.
Nesta etapa da palestra o professor abriu um parêntese para esclarecer o debate: “Uma das características das revoluções burguesas foram a estrutura econômica de classes e a estrutura de direitos iguais entre indivíduos. Esses fatores são imprescindíveis para caracterizar um estruturação capitalista. Porém o Brasil se estruturou socialmente em classes econômicas sem se estruturar na questão dos direitos e, ao negro, nem mesmo a condição de classe foi deixada, segmentando uma grande parcela da população que não podia sequer se organizar como classe social”, explicou Ricardo Martins.
Ainda segundo o professor, Florestan Fernandes considerava que havia alguma coisa de errado com a sociedade que não conseguia organizar suas classes sociais. “Nós não conseguimos nos organizar quando não conseguimos posicionar o negro no mercado de trabalho”, afirmou Ricardo.
Antes de finalizar sua participação e encerrar o circuito de palestras da VII Semana de Ciências Sociais da Faceres, o professor Ricardo Martins listou três temas no quais as contribuições de Florestan Fernandes foram decisivas para a sociologia brasileira: o capitalismo dependente; o capitalismo agrário e a classe social como sendo um conceito puro na realidade brasileira, além de apresentar o conceito da expropriação do excedente econômico na economia brasileira.
Como tradicionalmente acontece, ao final das exposições do professor foi aberto espaço para questões e observações dos presentes e o tema racial mostrou-se como de maior repercussão entre os alunos.





Abro aqui o espaço para agradecer mais uma vez, Kaio valeu pela força, e ter se superado para elaborar os textos, sem comparação a os que fiz o ano passado, valeu.

sábado, 19 de setembro de 2009

Palestra dia 17/09





Palestra dia 17/09






Tema: A sociologia de Guerreiro Ramos
Palestrante: Prof. Ms. Silvano da Conceição
Na penúltima noite da VII Semana se Ciências Sociais da Faceres foi debatido um autor pouco conhecido pela maioria dos alunos: Alberto Guerreiro Ramos, um sociólogo brasileiro que se preocupou co questões práticas da Sociologia e que teve uma aproximação com os movimentos e com a história do negro em nosso país.
Para falar sobre este autor foi convidado o professor Silvano da Conceição, que iniciou sua palestra já fazendo uma referência clara a oposição que Guerreiro Ramos fazia entre a “Sociologia Enlatada”, que procura resposta nos trabalhos sociológicos europeus e norte-americanos sem se preocupara com as particularidades do local estudado e a “Sociologia Dinâmica”, que além de levar em consideração os aspectos regionais do local estudado, oferece também possibilidades práticas que podem levar a modificação da realidade social.
Para facilitar o entendimento dos alunos presentes, Silvano dividiu o trabalho de Guerreiro Ramos em etapas:
Década de 40 – decênio que define a trajetória e a formação acadêmica do autor que se formou em Ciências Sociais e Direito. Antes deste período, Ramos era conhecido apenas por seu trabalho de crítica literária. Destacam-se em sua formação a influência de fenomenologia e do existencialismo. Neste período o autor luta pelo reconhecimento de que apenas através de uma visão nacionalista seria possível entender os problemas que existem no Brasil e se aproxima do teatro experimental negro. Para Ramos, o Brasil possui uma dívida contraída no passado com os negros, a qual o país faz questão de ignorar, impedindo que os problemas que resultaram desta negligência sejam compreendidos e resolvidos.
Década de 50 – período no qual o autor se envolve que o Instituto Brasileiro de Estudos Sociais e Políticos. Nesta década Ramos percebe que é fundamental associar pensamento à ação e defende uma sociologia militante, que deveria acontecer fora dos gabinetes acadêmicos e limitados a pura teoria.
Década de 60 – O autor olha para a sociologia na perspectiva da política e da administração pública. Neste período o autor chama a atenção para a oportunidade de promover o desenvolvimento nacional refletindo sobre as políticas públicas e as administrações. Neste período Ramos lança uma de suas principais obras, “A redução Sociológica”, onde fica clara a sua intenção de propagar a idéia de uma sociologia militante.
Silvano lembrou que para os críticos de Guerreiro Ramos, na tentava de conciliar sociologia e política, o autor acaba por não deixar uma grande obra e também não decola na careira política. Com o início da ditadura militar o sociólogo se muda para os Estados Unidos de onde só retorna em 1979, quando inicia a produção de uma séria de artigos onde acusa o corpo político nacional de cometer diversos crimes contra a população. Ramos faleceu em 1981, as vésperas de ocupar uma vaga na Universidade Federal da Bahia.



Ao fim da apresentação do professor Silvano, foi formada uma mesa redonda com a participação de ex-alunos do curso de Ciências Sociais da Faceres que atuam como professores da disciplina atualmente.
A primeira a dar depoimento sobre a carreira e os desafios foi a professora Marli Gomes, que se formou com a 1° turma de sociologia. Ela relatou que ficou surpresa ao conseguir muitas aulas logo na primeira atribuição que participou na cidade de Fernandópolis, onde reside atualmente. Marli deixou claro que a Sociologia ainda é subjugada pelo corpo docente das escolas e sobre a importância do professor de fomentar o movimento intelectual dos alunos nos colégios.
Logo após foi a vez do professor Daniel da Silva, que iniciou o curso com a primeira turma da Faceres, mas, por problemas pessoais, só veio a terminar a graduação junto à terceira turma. Daniel reforçou a idéia de que um dos maiores desafios dos professores hoje é aproximar a Sociologia ao cotidiano dos alunos, buscando associá-la as experiências familiares e profissionais dos discentes.
O terceiro a dar seu depoimento foi o professor David Santiago, formado junto à segunda turma da faculdade. Ele contou que início sua experiência de ensino nas matérias de história e filosofia e lembrou que mesmo as escolas particulares possuem materiais didáticos para a Sociologia que não são completos, embora melhores que o material das escolas públicas.
Para fechar a participação de ex-graduandos, a professora Mariana Cabrera deu o seu relato de como foi complicado o início de sua vida docente, principalmente com a preparação de aulas e o número de alunos que existe em cada classe no ensino público. A professora também relatou os desafios de se associar o conteúdo da Sociologia com o cotidiano dos alunos fora do colégio.
Em clima de Fórum, seguiu-se um debate entre os participantes da mesa e os presentes e novamente problemas como o material de aula e o interesse dos alunos deram o tom das discussões.

Palestra dia 16/09




Tema: Aspectos legais da inserção as disciplina de Sociologia no Ensino Médio
Palestrante: Prof. Jesus Maria Martines
Prof. Antônio Arnaldo Gomes

A terceira noite da VII Semana de Ciências Sociais da Faceres abordou os “Aspectos Legais da inserção da disciplina de Sociologia no Ensino Médio”. Os professores Jesus Maria Martines, diretor pedagógico do colégio São José, e Antonio Arnaldo Gomes, coordenador pedagógico da escola Prof. Sônia Maria Venturelli e professor da Coopem de Rio Preto levaram aos alunos suas experiências e expectativas sobre a inserção da Sociologia e da Filosofia no currículo do Ensino Médio.
O professor Jesus Martines foi quem iniciou as palestras. De uma maneira bem humorada, o professor definiu a Sociologia como um meio de conhecer e explicar a realidade social para nela intervir.
Jesus utilizou slides para demonstrar aos presentes como a lei que regulamenta a Filosofia e a Sociologia no Ensino Médio é vaga e cheia de falhas que permitem às escolas burlarem as determinações do Estado. Demonstrou o porquê de tantas mudanças, dando exemplo da diferença entre a determinação de 2006, a qual previa que o aluo deveria conhecer o processo histórico da transformação da sociedade e da cultura, que permita que diversas maneiras de se aplicar conteúdos que pudessem ser considerados como “ensino de sociologia” e a determinação de 2008 que obrigou as escolas a lecionarem as duas ciências de maneira igual as demais matérias curriculares.
Quanto a implantação gradativa da sociologia no ensino médio, o professor Jesus demonstrou que mesmo os conselhos e secretárias regionais de educação não conseguem chegar a um consenso. O palestrante também frisou os motivos políticos que levaram o estado de São Paulo a ser o último do país a adotar a sociologia no currículo escolar.
Um dos pontos mais destacados pelo professor foi o perigo que representa a autorização que os colégios possuem de trabalhar 20% de suas matérias no modelo semipresencial. Isso permitiria que tanto a Sociologia quanto a Filosofia sejam ministradas por professores de outras áreas, uma vez que para ser tutor de matérias semipresenciais não há a necessidade de formação na área lecionada.
Para fechar suas considerações, Jesus Martines lembrou aos presentes que países como Chile, Uruguai e Argentina oferecem ao aluno a opção de um Ensino Médio diversificado, com algumas matérias bases obrigatórias e outras complementares de escolha individual e criticou o método brasileiro que propõe que o aluno estude todas as matérias, independente de sua preferência, até a conclusão do ciclo escolar.
Foi então que o professor Antônio Arnaldo Gomes iniciou suas considerações. Ele contou aos presentes que participou da luta pela inclusão da Filosofia e da Sociologia em passeatas e congressos e lembrou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vetou os projetos que previam a obrigatoriedade de tais matérias na grade curricular.
Para aquecer um pouco mais a discussão, o professor Arnaldo deixou no ar a questão de que até que ponto a cultura escolar tem correspondência com a cultura de vida dos alunos: “É natural do homem considerar algo quando tem resultado prático em sua vida”. Fez também um paralelo da “antiga escola”, que recebia alunos já selecionados pelas classes sociais e a “escola de hoje”, que recebe todos os alunos mas não tem preparação para isso: “Esses alunos chegaram atrasados e a escola ainda está sem preparação para recebê-los. Hoje a escola não garante emprego nem fornece status, por isso mesmo o aluno só vai porque é realmente obrigado”, completou o professor.
Arnaldo salientou que muitas vezes a escola considera o desinteresse o mau desempenho dos alunos como culpa das famílias, porém deixou claro que a “família” que a escola imagina não existe mais, fazendo uma referência as novas formações familiares onde todos os membros da casa trabalham fora.
Para encerrar sua participação, o professor Antônio Arnaldo lembrou aos alunos presentes que cabe a eles demonstrar para a sociedade que valeu a pena incluir a Filosofia e a Sociologia no currículo do Ensino Médio.
Mais uma vez foi aberto espaço para perguntas e, novamente, questões como a aplicação dos conteúdos e as apostilas do governo permearam as discussões.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Programação Cultural 16/09





Mas uma vez na semana de C.S. podemos contar com o talento de músicos do nosso curso.
A Karina nos encantando com sua voz, e sua delicadeza.
E e nosso querido Rciele (Não sei se o nome esta certo, mas é o nosso vulgo, Nei Paraíba)e o outro rapaz q não sei o nome.Toca Rau foi atendido.aeeeeeeeeeeee

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Palestra dia 15/09




Tema: A sociologia na educação brasileira: Perspectivas e desafios

Palestrante: Prof. Ms. Adalberto Miranda Distassi
Prof. Ms. Miram Ribeiro de Barros Shaw
Prof. Ms. Ricardo Constante Martins

A segunda noite da VII Semana de Ciências Sociais da Faceres propôs uma discussão entre alunos e professores sobre a “Sociologia na Educação Brasileira: Perspectivas e Desafios”.
Participaram da mesa redonda que norteou as discussões o Prof. Ms. Adalberto Miranda Distassi, diretor da instituição, o Prof. Ms. Ricardo Constante Martins, coordenador do curso de Ciências Socas da Faceres e a Prof. Ms. Mirian Ribeiro de Barros Shaw.
A professora Miriam foi quem deu início as considerações iniciais. Antes de entrar no embate proposto, a professora pediu que os presentes reservassem alguns instantes para fazer uma reflexão sobre a peça de teatro “Alma Aprisionada”, apresentada pelo Balé de Rio Preto antes do início da discussão e disse que existem muitos aspectos retratados na peça que podem ser associados diretamente com o cotidiano de um professor em sala de aula.
Miriam fomentou também uma reflexão sobre a inserção da Sociologia no Ensino Médio e realizou um rápido retrospecto das Leis de Diretrizes Básicas, desde sua criação em 1961 até a LDB de 1996 que propôs o termo “cidadania” e temas que ultrapassam a discussão curricular no ensino do país. A professora atentou também aos alunos o fato de o manejo do conteúdo das aulas de sociologia e seus resultados em sala de aula. Com seu jeito singular de levantar questões, Miram deixou no ar elementos de reflexão que podem ser estendidos a muito além da noite de terça feira: “Vamos discutir os clássicos ou abandonar a teoria? Usar o material didático proposto ou fazer uso de elementos não “convencionais” no material escolar? Se posicionar reflexivamente ou reproduzir o atual com os alunos?”, essas foram algumas das questões propostas pela professora que fechou sua participação inicial afirmando que a maior tarefa do educador brasileiro hoje é provocar o estranho, o falatório, realizar uma ação centrada no sujeito capaz de agir.
Em seguida foi a vez do professor Ricardo Constante fazer suas considerações iniciais. Ricardo optou por enumerar de maneira rápida os percalços que rodam o ensino da sociologia no Brasil. Deixou claro que em sua opinião o ensino das ciências sociais é imprescindível para a formação de qualquer indivíduo e das dificuldades que existem para que possamos atingir os resultados satisfatórios no ensino atualmente.
Ricardo listou como maiores problemas para o corpo docente a atenção à origem do conhecimento, que se fragmentou de maneira elevada no século XX, a formação relativamente conservadora do professorado e as dificuldades didáticas metodológicas, que necessitam cada vez mais de alternativas para sua adaptação as necessidades do ensino hoje.
“Independentemente da época, do salário e do status que o professor tem em diferentes momentos da história, ele sempre será visto como uma referência, um exemplo de conduta, ética, moral e de procedimento”, conclui o coordenador do curso.
Já em relação aos discentes, Ricardo Constante observou que os alunos chegam ao Ensino Médio com a cultura de conhecimento extremamente fragmentada, o que o impede de realizar reflexões abetas acerca do conteúdo passado em sala de aula, ressaltou também que as ciências sociais só aparecem para os alunos no Ensino Médio, o que anula a possibilidade de haver uma “retomada” de conhecimento, uma facilitação da analogia entre estudo teórico da sociologia e sua aplicação prática no cotidiano.
Para encerrar sua participação inicial Ricardo lembrou que o conteúdo de sociologia nos vestibulares aparece de maneira indireta e relativizada, o que dificulta o reconhecimento da importância determinante desta matéria para a assimilação de todo o conteúdo de conhecimento passado aos alunos.
O diretor da Faceres, professor Adalberto Mirada, foi o último a fazer as considerações iniciais antes de abrir espaço para a discussão com os presentes. Em tom comemorativo, o diretor da faculdade disse ser uma enorme alegria estar discutindo a inclusão da sociologia no Ensino Médio: “Embora haja diversas dificuldades, é um avanço na sociedade deste país os alunos estudarem as ciências sociais no colégio”. Segundo ele, a sociologia resgata o homem renascentista, ultrapassando a fragmentação curricular estruturada no século passado e o atualiza. Para o diretor, a sociologia, entre as diversas áreas do conhecimento, é a que tem o papel de integrar as ciências humanas.
Adalberto também atentou para a formação do docente e sua importância para melhorar a atuação do professor em sala de aula e disse que todos os espaços para a sociologia na grade curricular devem ser agora aproveitados, independente do professor que a ocupe, como os formados em histórias ou outras ciências humanas. Para o professor, a ocupação desses espaços agora garantirá o reconhecimento e fomentará uma possível ampliação desses espaços na formação escolar.
Após as considerações iniciais dos professores, a participação foi estendida aos alunos que propuseram questões como: possíveis maneiras de trabalhar a sociologia diferente do proposto pela cartilha governamental; os instrumentos que o professorado possui hoje para lecionar em um momento tão importante para a sociologia; como discutir preconceitos e diferenças se eles também estão integrados ao professor e a atribuição das aulas de sociologia a professores que possuem formação em outras matérias, como história e filosofia.
Texto:Kaio Bittencourt

Programação Cultural 15/09










ALMA APRISIONADA

Balé de Rio Preto

Ficha Técnica:
Coreógrafo: Mário Nascimento
Trilha: Sonora Loop B
Direção Geral e Sonoplasta: Creuza Arruda
Direção Artística e Iluminação: Rodolfo César
Direção Teatral: Danilo Melo
Assessoria Conceitual: Inês Praxedes
Preparador Físico: João Carlos Camilo
Apoiador: Rede Brasil Fitness
Figurino: Criação Coletiva
Cenário: Marcela Zamora
Eloenco:Ana Rufio,Carol Campos, Fábio D'albert,Gisele Zeghini,Jaqueline Brambila,Natalia Gazola e Thais Benites


Assim como ontem ja vou deixar claro que não me sinto bem nesta posição de critico, uma vez que ao fazer isso eu tiro a leitura de outra pessoas fez do espetaculo.
Alma Aprisionada, varios convites recebi de meu amigo Danilo Melo para ir contemplar, em alguns falei que iria e não fui, se passou apresentações no FIT e não fui, mas es que ele veio ate mim.Esperava muita coisa ja devido os grandes elogios que ja havia escutado, mas confesso que me surpreendi e me encantei muito com o espetaculo.
Mas vamos la, o primeiro grande susto que levei foi ao ver meninas e um rapaz que ja havia visto varias vezes em ocasiões diversas surpreenderem ao sair da posição comum do nosso dia-dia, uma vez que qualquer pessoa que ver qualquer um dos atores/bailarinos na rua não imagina o tamanho poder de utilizar seu corpo como de forma expressão, com uma manifestação artística linda, mesmo dentro de um contexto angustiaste, fechado, escuro, que existe no espetaculo.Aqui ja elogio a performance do elenco em geral, cada passo, cada ação, da angustia aprisionada na vontade de falar de se libertar, nas gargalhadas presas e jogadas ao ar, dos gritos, e a solidão presa, para ate a performance maravilhosa de controlar o elenco e o publico com o bater do tambor ( e muito bem escolhido em ser uma afro descendente em manifestar esta arte).
Acho que isso, não sou eu um grande entendido em Balé, do Teatro que amo fiz parte, aprendi muito e irei voltar, mas mesmo assim tenho muito a aprender, mas aqui escrevi estas palavras através do que me contagio, do que me tocou, do que me machuco e o que fez bem.
Texto: Victor Augusto

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Algumas fotos do primeiro dia





Palestra dia 14/09


Paradigmas teóricos da Sociologia brasileira: Octavio Ianni
Profa.Dr.Célia Ap. Ferreira Tolentino (UNESP)

A primeira noite da VII semana de Ciências Sociais teve início com o professor Ricardo Martins, coordenador do curso de Ciências Sociais, ressaltando a importância do evento para o curso e para a faculdade. Em um breve discurso, Ricardo lembrou o ótimo resultado obtido pela Faceres no ENADE, avaliação na qual o curso de Ciências Sociais aproximou-se muito da nota máxima e lembrou que o tema da VII Semana da Ciências Sociais foi especificamente escolhido para atender as últimas turmas do curso que se formaram na Faceres e os alunos que estão para se formas neste ano.
Após as palavras do coordenador do curso, foi a vez da Prof. Dr. Célia Ap. Ferreira Tolentino tomar assento e na mesa de palestra para falar sobre “Os paradigmas teóricos da sociologia brasileira”, tema baseado nos trabalhos do pensador Octavio Ianni, sociólogo brasileiro de importância ímpar e do qual a professora Célia foi aluna em algumas ocasiões.
De maneira muito clara e sucinta, Célia começou sua palestra lembrando que no Brasil existem grandes pensadores e que o “modismo” de buscar grandes referencias para estudo em países europeus como França e Inglaterra já não são necessários. A professora destacou que Ianni “contava a história enquanto ela acontecia”, fazendo referencia ao caráter atual das obras deste pensador e de sua capacidade de se localizar na história contemporânea de modo a fazer uma leitura muito próxima dos fatos que sucederam seus estudos.
A professora Célia deixou claro que uma das características mais importantes da obra de Octavio Ianni está relacionada diretamente ao “bom caipirismo” deste autor, que se manteve “caipira” mesmo quando passou a ser considerado um estudioso de muito sucesso e reconhecido nacionalmente.
Durante sua palestra, a professora deu bastante importância ao fato de Ianni, junto com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, terem articulado e trabalhado juntos pela criação do Cebrap (centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e ao fato de ambos serem discípulos do grande sociólogo e político brasileiro Florestan Fernandes e dos motivos que levaram ao afastamento de Ianni de FHC quando este último ocupou a presidência do Brasil.
Célia atentou a platéia ao fato de que Octavio Ianni antecipava em seus discursos o mundo comum a atualidade através da leitura dos discursos dos empresários, dos consultores de mercado e até da própria bolsa de valores numa época em que as mudanças estavam acontecendo de maneira “visceral” (final da década de 80 e início dos anos 90).
No final de sua palestra, Célia respondeu atenciosamente às questões dos alunos e dos professores presentes, demonstrando grande interesse pela participação e pela fomentação dos estudos sociais acadêmicos em nosso país.


texto: Kaio Bittencourt ,aluno da Pos-Sociologia Política, grande amigo que ja faz parte da familia CS.



Quando o Prof. Arare me falou da palestraste semanas antes do inicio desta semana, nos dizendo que ela era sua professora, mas acima de tudo uma grande profissional, fiquei suspeito, mas não por ser chato, ou por não confiar em nosso amigo, mas sim por que não confiar no seu coração, por que uma vez ela sendo professora da sua graduação ele poderia ser eternamente apaixonado por ela, assim como todos nos sempre nos apaixonamos por alguns grandes professoras da nossa graduação, ontem veio a comprovação quando ele disse que ela foi a primeira professora que deu aula para ele na graduação. Mas veio outra comprovação o quanto talentosa que a Profa. Célia se apresentou, acredito que no final da noite não foi somente o Prof. Arare e o Prof. Ricardo (que também foi seu aluno de graduação)que sairiam apaixonados por ela.
Prfa.Célia contagio muito em nos apresentar seu mestre, deu a nos um pouquinho do gosto de conhecer Prof. Octavio Ianni, a nos apresentar sua simplicidade caipira, me deu a motivação de poder voltar a acreditar no sentimento, na simplicidade humana de querer mudar as coisas que esta a nosso redor ( que confesso que estava perdendo essa motivação).
Agradeço pela presença e pela palestra, mas muito mais que isso pela motivação a alimentarmos nossas duvidas e incertezas sobre a nossa modernidade tão caótica.
texto: Victor Augusto (Vitão)


e quem quiser também mostrar as suas opiniões sobre os eventos me procure na faculdade.