terça-feira, 28 de abril de 2009

Autenticidade de ficha de Dilma não é provada

Folha tratou como autêntico documento, recebido por e-mail, com lista
de ações armadas atribuídas à ministra da Casa Civil

Reportagem reconstituiu participação de Dilma em atos do grupo
terrorista VAR-Palmares, que lutou contra a ditadura militar

DA SUCURSAL DO RIO


A Folha cometeu dois erros na edição do dia 5 de abril, ao publicar a
reprodução de uma ficha criminal relatando a participação da hoje
ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no planejamento ou na execução
de ações armadas contra a ditadura militar (1964-85).
O primeiro erro foi afirmar na Primeira Página que a origem da ficha
era o "arquivo [do] Dops". Na verdade, o jornal recebeu a imagem por
e-mail. O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja
autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser
assegurada -bem como não pode ser descartada.
A ficha datilografada em papel em tom amarelo foi publicada na
íntegra na página A10 e em parte na Primeira Página, acompanhada de
texto intitulado "Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Netto".
Internamente, foi editada junto com entrevista da ministra sobre sua
militância na juventude. Sob a imagem, uma legenda ressaltou a
incorreção dos crimes relacio nados: "Ficha de Dilma após ser presa
com crimes atribuídos a ela, mas que ela não cometeu".
O foco da reportagem não era a ficha, mas o plano de sequestro em
1969 do então ministro Delfim Netto (Fazenda) pela organização
guerrilheira à qual a ministra pertencia, a VAR-Palmares (Vanguarda
Armada Revolucionária Palmares). Ela afirma que desconhecia o plano.
Em carta enviada ao ombudsman da Folha anteontem, Dilma escreve:
"Apesar da minha negativa durante a entrevista telefônica de 30 de
março (...) a matéria publicada tinha como título de capa "Grupo de
Dilma planejou sequestro do Delfim". O título, que não levou em
consideração a minha veemente negativa, tem características de
"factóide", uma vez que o fato, que teria se dado há 40 anos,
simplesmente não ocorreu. Tal procedimento não parece ser o padrão da
Folha."
A reportagem da Folha se baseou em entrevista gravada de Antonio
Roberto Espinosa, ex-dirigente da VPR (Vanguarda Popular
Revolucionária) e da VAR-Palmares, que assumiu ter coordenado o plano
do sequestro do ex-ministro e dito que a direção da organização tinha
conhecimento dele.
Três dias depois da publicação da reportagem, Dilma telefonou à Folha
pedindo detalhes da ficha. Dizia desconfiar de que os arquivos
oficiais da ditadura poderiam estar sendo manipulados ou
falsificados.
O jornal imediatamente destacou repórteres para esclarecer o caso. A
reportagem voltou ao Arquivo Público do Estado de São Paulo, que
guarda os documentos do Dops. O acervo, porém, foi fechado para
consulta porque a Casa Civil havia encomendado uma varredura nas
pastas. A Folha só teve acesso de novo aos papéis cinco dias depois.
No dia 17, a ministra afirmou à rádio Itatiaia, de Belo Horizonte,
que a ficha é uma "manipulação recente".
Na carta que enviou ao ombudsman, Dilma escreveu: "Solicitei f or
malmente os documentos sob a guarda do Arquivo Público de São Paulo
que dizem respeito a minha pessoa e, em especial, cópia da referida
ficha. Na pesquisa, não foi encontrada qualquer ficha com o rol de
ações como a publicada na edição de 5.abr.2009. Cabe destacar que os
assaltos e ações armadas que constam da ficha veiculada pela Folha de
S. Paulo foram de responsabilidade de organizações revolucionárias
nas quais não militei. Além disso, elas ocorreram em São Paulo em
datas em que eu morava em Belo Horizonte ou no Rio de Janeiro.
Ressalte-se que todas essas ações foram objeto de processos judiciais
nos quais não fui indiciada e, portanto, não sofri qualquer
condenação. Repito, sequer fui interrogada, sob tortura ou não, sobre
aqueles fatos."
A ministra escreveu ainda: "O mais grave é que o jornal Folha de
S.Paulo estampou na página A10, acompanhando o texto da reportagem,
uma ficha policial falsa sobre mim. Es sa falsificação circula pelo
menos desde 30 de novembro do ano passado na internet, postada no
site www.ternuma.com.br ("terrorismo nunca mais"), atribuindo-me
diversas ações que não cometi e pelas quais nunca respondi, nem nos
constantes interrogatórios, nem nas sessões de tortura a que fui
submetida quando fui presa pela ditadura. Registre-se também que
nunca fui denunciada ou processada pelos atos mencionados na ficha
falsa."

Fontes
Dilma integrou organizações de oposição aos governos militares, entre
as quais a VAR-Palmares, um dos principais grupos da luta armada. A
ministra não participou, no entanto, das ações descritas na ficha.
"Nunca fiz uma ação armada", disse na entrevista à Folha de 5 de
abril. Devido à militância, foi presa e torturada.
Na apuração da reportagem do dia 5, o jornal obteve centenas de
documentos com fontes diversa s: Superior Tribunal Militar, Arquivo
Público do Estado de São Paulo, Arquivo Público Mineiro,
ex-militantes da luta armada e ex-funcionários de órgãos de segurança
que combateram a guerrilha.
Ao classificar a origem de cada documento, o jornal cometeu um erro
técnico: incluiu a reprodução digital da ficha em papel amarelo em
uma pasta de nome "Arquivo de SP", quando era originária de e-mail
enviado à repórter por uma fonte.
No arquivo paulista está o acervo do antigo Dops, sigla que teve
vários significados, dos quais o mais marcante foi Departamento de
Ordem Política e Social. Na ditadura, era a polícia política
estadual.
Entre as imagens reproduzidas pelo arquivo, a pedido da Folha, não
estava a ficha. "Essa ficha não existe no acervo", diz o coordenador
do arquivo, Carlos de Almeida Prado Bacellar. "Nem essa ficha nem
nenhuma outra ficha de outra pessoa com esse modelo. Esse modelo de
ficha a gente não conhece."Pelo menos desde novembro a ficha está na
internet, destacadamente em sites que se opõem à provável candidatura
presidencial de Dilma.
O Grupo Inconfidência, de Minas Gerais, mantém no ar uma reprodução
da ficha. A entidade reúne militares e civis que defendem o regime
instaurado em 1964. Seu criador, o tenente-coronel reformado do
Exército Carlos Claudio Miguez, afirma que a ficha "está circulando
na internet há mais de ano". Sobre a autenticidade, comentou: "Não
posso garantir. Não fomos nós que a botamos na internet".
Pesquisadores acadêmicos, opositores da ditadura e ex-agentes de
segurança, se dividem. Há quem identifique indícios de fraude e quem
aponte sinais de autenticidade da ficha. Apenas parte dos acervos dos
velhos Dops está nos arquivos públicos. Muitos documentos foram
desviados por funcionários e hoje constituem arquivos privados.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A Educação como campo de disputa política

por Michelle Amaral da Silva última modificação 23/04/2009 16:19
Colaboradores: Sérgio Haddad
Governo federal troca farpas com governo estadual e municipal de São
Paulo. Movimentos sociais e sindicais saíram a campo para se
posicionar sobre os temas que impactam os dois pólos políticos
22/05/2009
Sérgio Haddad
Os meses de abril e março vêm sendo marcados por uma intensa batalha
de posições no jogo político, tendo a Educação como foco da cena.
Ainda no final do mês de março, um artigo do Ministro Fernando Haddad
ateou fogo ao debate por classificar como progressistas e
conservadoras, posições tomadas no campo da educação onde,
evidentemente, colocava as políticas do governo Lula no campo
progressista e estocava as políticas do PSDB/DEM do Estado e Município
de São Paulo como dentro do campo conservador. Afirmava que os
conservadores - tucanos e democratas – defendem menores volumes de
recursos, acusando os adversários por trabalhar contra a vinculação
constitucional dos recursos para a educação. Confrontava a utilização
das avaliações como mecanismo para premiar e punir trabalhadores da
educação por parte da oposição, enquanto o MEC amplia os recursos
daqueles que, a partir dos resultados, se comprometem com melhorias
pedagógicas e de valorização do professorado. Por fim, acusa os
conservadores de colocar toda a culpa dos males do ensino nas costas
dos professores e sua formação, não assumindo a parte de
responsabilidade que cabe ao poder público, enquanto o MEC está
preocupado em valorizar o professorado e punir as agências formadoras
que não cumprem com a qualidade necessária.
Dias depois, o secretário municipal de Educação de São Paulo,
Alexandre Schneider, respondeu ao ministro, também em artigo publicado
no mesmo jornal, desqualificando a classificação de conservadores e
progressistas, acusando-o de simplificar e politizar a questão
educacional. Ironicamente acusa o ministro de proclamar resultados
utilizando as mesmas políticas do PSDB/DEM, de defender aumento de
recursos no final da sua gestão para aumentar os encargos dos governos
que virão, e saiu em defesa das políticas do governo Serra de bônus ao
professorado como uma “forma de premiar aqueles que cumprem melhor o
seu papel: educar”.
Reforço no time
Ainda no mês de março, novos lances ocorreram. No dia 11, o ministro
Fernando Haddad anunciou, em solenidade na Andifes - A Associação
Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior, a
proposta de mudança no acesso às universidades pelo novo Enen. . No
dia 30, as diretrizes da proposta foram enviadas formalmente à
associação e a discussão ganhou visibilidade pública provocando
polêmicas entre os principais contendores da batalha política
O governo Serra, por sua vez, substituiu a secretária de Educação
Maria Helena Guimarães pelo ex-ministro do governo FHC e atual
deputado federal, Paulo Renato de Souza. Depois de uma desastrada
gestão, que culminou com a distribuição de livros didáticos com mapas
onde havia dois países com nome de Paraguai e o Equador não existia,
Maria Helena Guimarães saiu para dar lugar a um profissional da
política, um dos caciques do PSDB, que chegou com a clara intenção de
reforçar a campanha do Governador Serra.
Na sua primeira entrevista, Paulo Renato afirmou que sua chegada à
secretaria é "compromisso partidário em um momento delicado da vida
política do país". Quanto às políticas educacionais da sua
antecessora, nada muda, pois o ex-ministro não só elogiou como
convidou sua colega a permanecer como auxiliar das suas ações, assim
como já havia ocorrido no tempo de ministro, quando Maria Helena foi
uma das principais colaboradoras e técnicas. Quanto ao novo Enem, o
secretário disparou em entrevista ao jornal FSP: “ A proposta tem
méritos, mas está mal formulada...O exame hoje avalia competências e
habilidades gerais. Não serve para selecionar candidatos para cem
vagas disputadas. Ele ficará descaracterizado.”
Sindicatos e movimentos sociais também em cena
Mas o ambiente de disputa não se encerra no âmbito dos principais
partidos e entre os pólos do governo federal e o governo estadual e
municipal de São Paulo. Os movimentos sociais e sindicais saíram a
campo para se posicionar sobre temas variados que impactam os pólos
políticos em disputa.
Depois dos intensos protestos nacionais pelo fechamento das escolas
itinerantes do estado do Rio Grande do Sul, governado pelo PSDB de
Ieda Crusius, em função da decisão do Ministério Público daquele
Estado, o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade do MEC, André Lázaro, manifestou sua contrariedade com o
fato durante audiência pública realizada pela Comissão de Direitos
Humanos do Senado. Em solidariedade ao Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra, o secretário defendeu a prioridade do direito à educação das
crianças e alunos privados de freqüentar as escolas.
Em São Paulo, ao mesmo tempo em que ocorria a mudança na Secretaria do
Estado, os movimentos estudantis UNE e UBES saíram às ruas em passeata
para apoiar o fim do vestibular, mas em defesa de um Enem que fosse
seriado e não apenas no último ano, como forma de aprimorar o ensino
médio. As manifestações dos estudantes deixaram claramente uma marca
de oposição e crítica ao novo secretário Paulo Renato de Souza.
No plano federal a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
– CNTE pediu audiência ao presidente do Supremo Tribunal Federal,
Gilmar Mendes, para acelerar o processo de julgamento do novo piso
salarial. Com paralisação dos professores marcada para o dia 24 de
abril, a CNTE defende a proposta governamental do piso salarial
nacional com um terço das horas dedicadas a atividades externas à sala
de aula, como preparação de aulas, correção de material e reuniões
pedagógicas. Alguns governos estaduais, particularmente os de
oposição, questionam no supremo o seu mérito.
Fiel da balança?
O que está em jogo em meio a estas lutas de posições? Por um lado, o
governo Serra e sua candidatura à presidência da República. A Educação
é um dos pontos mais criticados da gestão tucana, que em 15 anos no
poder do estado mais rico da federação poucos resultados têm a
apresentar. Depois de inúmeros secretários e secretárias, com
propostas e estilos completamente diversos, que vai do carismático-
religioso secretário Gabriel Chalita à truculência da secretária Maria
Helena Guimarães, o governo tucano não conseguiu conferir identidade à
política educacional do Estado de modo a impor suas orientações
programáticas e prever resultados. Nem mesmo resultados quantitativos,
como ocorreram na época do Governo FHC, quando uma equipe permanente e
coordenada ideologicamente logrou impor suas políticas em acordo com
as orientações neoliberais do momento.
No outro pólo o governo Lula, com o Ministro Fernando Haddad, um dos
candidatos do PT ao governo do Estado. Diferentemente do que ocorre no
governo Serra, a área educacional do governo Lula tem sido uma das
mais bem avaliadas pelas pesquisas de opinião, apesar de estarmos
muito longe de um bom sistema educacional. Depois de um primeiro
mandato com 3 ministros em 4 anos, sem uma atuação coordenada e lógica
que mostrasse uma política educacional petista, e que pudesse
confrontar o arrumado discurso neoliberal do governo anterior, o
segundo mandato mostrou mais estabilidade, com um discurso mais
coerente e algumas ações inclusivas e diferenciadas, com resultados
ainda por serem avaliados.
Quem manda?
Por trás destes pólos de luta política, há o regime federativo, um dos
nós da política educacional brasileira e para o sistema nacional de
educação. O governo federal tem dificuldades em gerir políticas
nacionais na educação básica, pois a responsabilidade é dos estados e
municípios. Muitas das propostas nacionais promovidas pelo governo
federal encontram resistências, principalmente nos governos estaduais
de oposição, que acabam por questionar inclusive a constitucionalidade
destas medidas. Assim foi e tem sido com a proposta do piso salarial
nacional, com a implementação de uma política nacional de formação de
professores, com o novo Enem, com os modelos de avaliação. Sem entrar
no mérito destas medidas, o que se percebe é que o regime federativo,
por suas características, tem sido instrumento nesta batalha de
posições.
Resta, portanto, ao cidadão comum, aos movimentos sociais e sindicais,
e à população em geral, influir para que a disputa política eleitoral,
que tem na educação um campo agora privilegiado, seja voltado para
algo que é central: uma política de Estado que tome nas mãos a
responsabilidade por universalizar a oferta e garantir a qualidade do
ensino.
Sérgio Haddad é economista, doutor em educação, coordenador geral da
Ação Educativa e Diretor Presidente do Fundo Brasil de Direitos Humanos

Redução de gastos do Gov.Federal com software livre e Educação - entrevista e artigo Brasil de Fato

“Brasil gasta algo em torno de US$ 1 bilhão por ano, com o pagamento
de licenças”
por cristiano última modificação 23/04/2009 11:58
Em entrevista, presidente do Serpro, Marcos Vinicius Ferreira Mazoni,
apresenta economia e debate provocado pela opção de programas não
proprietários


23/04/2009
Juliano Domingues,
da Redação
O Governo Federal economizou R$ 370 milhões com a utilização de
Software Livre, ao invés de pago. O dado foi gerado a partir de
informações da Pesquisa de Software Livre, aplicada em 2008 pelo
Comitê de Implementação de Software Livre (CISL). O número é
incompleto, pois apenas 62 instituições públicas, das 99 participantes
do participantes do programa, responderam o questionário responsável
pela medição.
Software livre é qualquer programa de computador que pode ser usado,
copiado, estudado, modificado e redistribuído sem nenhuma restrição.
De acordo com o coordenador do CISL e presidente do ServiçoFederal de
Processamento de Dados (Serpro), vinculado ao Ministério da Fazenda,
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni, a utilização deste tipo de produto,
além um fator de economia para o governo, gera um debate sobre sermos,
ou não, agentes da evolução, aplicação e preservação de uma tecnologia
nacional.
O número de R$ 370 milhões já é expressivo, mas parece que ele poderia
ter sido maior ainda, pois não foram todas as instituições públicas
que contabilizaram suas economias. Isso é certo?
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni: Na verdade esse dado é extraído de um
questionário colocado na rede, portanto, nós sabemos que muitas outras
organizações, que também aturam com software livre, não tiveram
engajamento no questionário. Então são dados que ainda não temos. E
ainda não temos também outras informações sobre projetos se só que
foram desenvolvidos porque se utilizaram da lógica do software livre
porque, do contrário, ou seja, caso se tivesse usado software privado,
o pagamento de licenças inviabilizaria a implantação a implantação.
Nós temos também a introdução do software livre em unidades do governo
federal como, por exemplo, a Fundação Chico Mendes que toca todos os
projetos dos parques (Unidades de Conservação) e que hoje usa o
Expresso da Comunicação (programa do governo voltado para o
desenvolvimento da área), e que é um projeto que saiu do zero. Nem se
imaginava em fazer isso, caso houvesse a necessidade de pagar licenças
para o ambiente de comunicação. Então sem dúvida nenhuma, nós
poderíamos ter chegado a um número muito maior, mas como a nossa
preocupação é mostrar aquilo que a gente possa provar, nós chegamos a
esse número de R$ 370 milhões contabilizando o que seria a compra de
licenças para alguns projetos e a sua substituição por software de
código aberto. Repito que é verdade que se todos os nossos
planejamentos tivessem sido atingidos, nós teríamos um número maior.
Mas o importante é que o nosso plano visa avançar com segurança,
portanto, é certo que este número vai crescer daqui para frente.
Há alguma estatística que mostre qual seria a economia caso todas as
instituições públicas usassem software livre?
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni: O Brasil gasta algo em torno de US$ 1
bilhão por ano, com o pagamento de licenças. Se levarmos em conta que
o governo federal brasileiro corresponde a 55% desse mercado, então
estamos falando de US$ 550 milhões gastos em licenças. É claro que nem
tudo pode ser substituído por software livre, mas esse é o universo de
licenças que são pagas pelo país e a gente faz essa simulação. Mas
acho que se conseguíssemos substituir até 60% disso tudo por código
aberto, já será algo fantástico. Eu não falo em 100% porque há
sistemas que realmente devem continuar atuando com software
proprietário.
Existe alguma resistência por parte dos órgãos públicos na utilização
de software aberto? E, se sim, a que se deve essa resistência?
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni: Há resistência, sim e isso é algo
natural. Não é algo forçado por empresários de software proprietário,
por exemplo. É algo que simplesmente se deve ao conhecimento que as
pessoas têm. Aquele usuário final da tecnologia da informação não é um
ativista deste mundo “livre”. Ele é apenas um usuário, um simples
trabalhador que precisa de seu conhecimento em tecnologia para
trabalhar. Hoje, por exemplo, quando cai uma rede de computadores ou
internet, nós ficamos sem condições de trabalho dentro de um
escritório. Então não é algo simples, e quando o usuário sente que ele
não domina a proposta que é feita de mudança de tecnologia, é natural
que ele haja em direção ao que ele acha que é mais seguro. Ou seja,
manter essa rede com software pago mesmo. Afinal ele vai ser cobrado
pelo resultado final do trabalho dele, não importando se aquilo foi
feito com programa livre ou pago. É por isso que, muito mais
importante que convencer os nossos usuários finais a mudar, nós temos
que estabelecer condições de segurança para que ele realize este
processo, para que isso ocorra sem nenhum prejuízo, e sim com ganhos
para esta pessoa.
Fale sobre a implantação do software livre como uma alternativa a
privatização do conhecimento e como algo estratégico para o
desenvolvimento de uma tecnologia nacional.
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni: A tomada de decisão sobre o uso de
software sempre aparece para a sociedade na economia que se faz com
seu uso, ou seja, como esses R$ 371 milhões. Mas na verdade essa
estratégia tem um outro cunho. Nós podemos manter os investimentos no
mundo do software, mas não mais em royalties, e sim pagando pessoas e
conhecimento. Na verdade o que estamos procurando são elementos que
vão além, ou seja, que Estado brasileiro e mesmo empresas privadas
tenham controle sobre a evolução da tecnologia. Assim eu não fico mais
dependente daquele fornecedor de software que faz uma nova versão do
seu produto – muitas vezes inclusive sucateando o meu hardware, e que
decide assim que produto eu uso, por quanto tempo eu uso, quantas
vezes eu pago e quanto eu pago. É isso na verdade que está em jogo,
nós sermos agentes da evolução, aplicação e preservação da nossa
tecnologia ao longo dos anos. Os sistemas de grandes corporações, e aí
entra o governo, não são sistemas de um ou dois anos, na verdade se
usa o mesmo sistema por décadas. Então eu tenho que ter o controle
sobre qual software eu vou usar ali dentro. A sociedade em geral tem
que se apropriar disso. Trata-se de uma questão também econômica, pois
aí esse dinheiro dos royalties passa a circular dentro do país e assim
passaremos a gerar produtos com maior valor agregado. Eu duvido que
quem tenha um produto de mercado de dez anos atrás, ainda tenha
suporte para a sua operação hoje, e eu estou falando desde planilhas,
editores, até sistemas operacionais de dez anos atrás, como é o caso
do Windows, por exemplo. Eu gosto muito de usar como exemplo, o caso
de Santos Dumont, pois quando ele libera os códigos do Demoiselle, em
1907, ele cria a condição para evolução da indústria aeronáutica, sem
pagamento de royalties, fazendo, em vez disso, com que a indústria
ganhe dinheiro com a construção de aviões e não com o pagamento de
royalties. Por isso essa a grande diferente da tecnologia dele, em
relação à dos irmãos Wright que ficou parada. O mundo evolui pelos
caminhos onde o conhecimento estava liberado e não por onde ele estava
privatizado.



http://www3.brasildefato.com.br/v01/agencia/entrevistas/201co-brasil-gasta-algo-em-torno-de-us-1-bilhao-por-ano-com-o-pagamento-de-licencas201d/

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Mulheres e crianças na imprensa paulista, 1920-1940: educação e história


LANÇAMENTO EDITORA UNESP

Mulheres e crianças
nos jornais paulistas de antigamente




Título: Mulheres e crianças na imprensa paulista, 1920-1940: educação e história
Autora: Raquel Discini de Campos
Número de páginas: 224
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ XXX
ISBN: 978-85-7139-903-7
Coleção: PROPG


Em Mulheres e crianças na imprensa paulista, 1920-1940: educação e história, Raquel Discini de Campos extrai da matéria-prima do jornalismo e da publicidade regional concepções próprias a respeito da cultura que permeava os meios de comunicação do Estado de São Paulo na primeira metade do século XX, particularmente no que diz respeito às mulheres e às crianças, personagens principais da vida pública do período.
A autora nos faz pensar sobre a longa duração das representações culturais, já que observamos por meio de seu texto o nascimento de um mundo que é hoje o nosso. Ela nos convida para uma imersão na história da moda, da beleza, do culto à “esbeltez” e da maternidade, no que diz respeito á história das mulheres; e à ingenuidade, à pureza ou à marginalidade, no que diz respeito à história das crianças e dos adolescentes. Trata-se do retrato de uma época em que os jornais não só contavam o que acontecia no mundo, mas também procuravam formá-lo. Longe de uma visão maniqueísta de História, a autora busca demonstrar como os jornais tentavam educar o público leitor utilizando-se de diversos artifícios.
Este lançamento da Editora Unesp mostra como o historiador, ao se debruçar sobre as fontes históricas regionais, pode atingir o estatuto de universalidade, meta de comunicação daqueles que tem a escrita como instrumento privilegiado do diálogo com o outro. A obra é o resultado de uma tese de doutorado e foi premiada pelo “Prêmio Estímulo Nelson Seixas” de São José do Rio Preto, SP. Trata-se de um exame cuidadoso das imagens de mulheres e de crianças construídas e veiculadas pela imprensa paulista, pela publicidade e pela própria sociedade, mas trata-se, sobretudo, de uma narrativa que se situa entre as fronteiras da História da Imprensa, da História da Cultura e da História da Educação.
Capturando não só o que ocorre de instantâneo nos acontecimentos, mas também o que permanece até a atualidade, Raquel Discini de Campos faz um recorte analítico da vida da primeira metade do século XX no interior paulista, nos convidando à leitura.
Sobre o autor – Raquel Discini de Campos é historiadora, mestre e doutora em História da Educação pela Unesp, campus de Araraquara. É professora de História da Educação da Universidade Federal de Uberlândia (MG). Além de artigos científicos e capítulos de livros, publicou A princesa do sertão na modernidade republicana: urbanidade e educação na Rio Preto dos anos 1920, pela Annablume.


Os livros da Fundação Editora da Unesp podem ser adquiridos
pelo site www.editoraunesp.com.br ou telefone (11) 3242-7171.


Olha ae pessoal mais uma grande vitoria da nossa querida Profa.Raquel
Lindo isso, fico muito feliz, parabens Raquel, você esta nos nossos corações