“Brasil gasta algo em torno de US$ 1 bilhão por ano, com o pagamento
de licenças”
por cristiano última modificação 23/04/2009 11:58
Em entrevista, presidente do Serpro, Marcos Vinicius Ferreira Mazoni,
apresenta economia e debate provocado pela opção de programas não
proprietários
23/04/2009
Juliano Domingues,
da Redação
O Governo Federal economizou R$ 370 milhões com a utilização de
Software Livre, ao invés de pago. O dado foi gerado a partir de
informações da Pesquisa de Software Livre, aplicada em 2008 pelo
Comitê de Implementação de Software Livre (CISL). O número é
incompleto, pois apenas 62 instituições públicas, das 99 participantes
do participantes do programa, responderam o questionário responsável
pela medição.
Software livre é qualquer programa de computador que pode ser usado,
copiado, estudado, modificado e redistribuído sem nenhuma restrição.
De acordo com o coordenador do CISL e presidente do ServiçoFederal de
Processamento de Dados (Serpro), vinculado ao Ministério da Fazenda,
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni, a utilização deste tipo de produto,
além um fator de economia para o governo, gera um debate sobre sermos,
ou não, agentes da evolução, aplicação e preservação de uma tecnologia
nacional.
O número de R$ 370 milhões já é expressivo, mas parece que ele poderia
ter sido maior ainda, pois não foram todas as instituições públicas
que contabilizaram suas economias. Isso é certo?
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni: Na verdade esse dado é extraído de um
questionário colocado na rede, portanto, nós sabemos que muitas outras
organizações, que também aturam com software livre, não tiveram
engajamento no questionário. Então são dados que ainda não temos. E
ainda não temos também outras informações sobre projetos se só que
foram desenvolvidos porque se utilizaram da lógica do software livre
porque, do contrário, ou seja, caso se tivesse usado software privado,
o pagamento de licenças inviabilizaria a implantação a implantação.
Nós temos também a introdução do software livre em unidades do governo
federal como, por exemplo, a Fundação Chico Mendes que toca todos os
projetos dos parques (Unidades de Conservação) e que hoje usa o
Expresso da Comunicação (programa do governo voltado para o
desenvolvimento da área), e que é um projeto que saiu do zero. Nem se
imaginava em fazer isso, caso houvesse a necessidade de pagar licenças
para o ambiente de comunicação. Então sem dúvida nenhuma, nós
poderíamos ter chegado a um número muito maior, mas como a nossa
preocupação é mostrar aquilo que a gente possa provar, nós chegamos a
esse número de R$ 370 milhões contabilizando o que seria a compra de
licenças para alguns projetos e a sua substituição por software de
código aberto. Repito que é verdade que se todos os nossos
planejamentos tivessem sido atingidos, nós teríamos um número maior.
Mas o importante é que o nosso plano visa avançar com segurança,
portanto, é certo que este número vai crescer daqui para frente.
Há alguma estatística que mostre qual seria a economia caso todas as
instituições públicas usassem software livre?
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni: O Brasil gasta algo em torno de US$ 1
bilhão por ano, com o pagamento de licenças. Se levarmos em conta que
o governo federal brasileiro corresponde a 55% desse mercado, então
estamos falando de US$ 550 milhões gastos em licenças. É claro que nem
tudo pode ser substituído por software livre, mas esse é o universo de
licenças que são pagas pelo país e a gente faz essa simulação. Mas
acho que se conseguíssemos substituir até 60% disso tudo por código
aberto, já será algo fantástico. Eu não falo em 100% porque há
sistemas que realmente devem continuar atuando com software
proprietário.
Existe alguma resistência por parte dos órgãos públicos na utilização
de software aberto? E, se sim, a que se deve essa resistência?
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni: Há resistência, sim e isso é algo
natural. Não é algo forçado por empresários de software proprietário,
por exemplo. É algo que simplesmente se deve ao conhecimento que as
pessoas têm. Aquele usuário final da tecnologia da informação não é um
ativista deste mundo “livre”. Ele é apenas um usuário, um simples
trabalhador que precisa de seu conhecimento em tecnologia para
trabalhar. Hoje, por exemplo, quando cai uma rede de computadores ou
internet, nós ficamos sem condições de trabalho dentro de um
escritório. Então não é algo simples, e quando o usuário sente que ele
não domina a proposta que é feita de mudança de tecnologia, é natural
que ele haja em direção ao que ele acha que é mais seguro. Ou seja,
manter essa rede com software pago mesmo. Afinal ele vai ser cobrado
pelo resultado final do trabalho dele, não importando se aquilo foi
feito com programa livre ou pago. É por isso que, muito mais
importante que convencer os nossos usuários finais a mudar, nós temos
que estabelecer condições de segurança para que ele realize este
processo, para que isso ocorra sem nenhum prejuízo, e sim com ganhos
para esta pessoa.
Fale sobre a implantação do software livre como uma alternativa a
privatização do conhecimento e como algo estratégico para o
desenvolvimento de uma tecnologia nacional.
Marcos Vinicius Ferreira Mazoni: A tomada de decisão sobre o uso de
software sempre aparece para a sociedade na economia que se faz com
seu uso, ou seja, como esses R$ 371 milhões. Mas na verdade essa
estratégia tem um outro cunho. Nós podemos manter os investimentos no
mundo do software, mas não mais em royalties, e sim pagando pessoas e
conhecimento. Na verdade o que estamos procurando são elementos que
vão além, ou seja, que Estado brasileiro e mesmo empresas privadas
tenham controle sobre a evolução da tecnologia. Assim eu não fico mais
dependente daquele fornecedor de software que faz uma nova versão do
seu produto – muitas vezes inclusive sucateando o meu hardware, e que
decide assim que produto eu uso, por quanto tempo eu uso, quantas
vezes eu pago e quanto eu pago. É isso na verdade que está em jogo,
nós sermos agentes da evolução, aplicação e preservação da nossa
tecnologia ao longo dos anos. Os sistemas de grandes corporações, e aí
entra o governo, não são sistemas de um ou dois anos, na verdade se
usa o mesmo sistema por décadas. Então eu tenho que ter o controle
sobre qual software eu vou usar ali dentro. A sociedade em geral tem
que se apropriar disso. Trata-se de uma questão também econômica, pois
aí esse dinheiro dos royalties passa a circular dentro do país e assim
passaremos a gerar produtos com maior valor agregado. Eu duvido que
quem tenha um produto de mercado de dez anos atrás, ainda tenha
suporte para a sua operação hoje, e eu estou falando desde planilhas,
editores, até sistemas operacionais de dez anos atrás, como é o caso
do Windows, por exemplo. Eu gosto muito de usar como exemplo, o caso
de Santos Dumont, pois quando ele libera os códigos do Demoiselle, em
1907, ele cria a condição para evolução da indústria aeronáutica, sem
pagamento de royalties, fazendo, em vez disso, com que a indústria
ganhe dinheiro com a construção de aviões e não com o pagamento de
royalties. Por isso essa a grande diferente da tecnologia dele, em
relação à dos irmãos Wright que ficou parada. O mundo evolui pelos
caminhos onde o conhecimento estava liberado e não por onde ele estava
privatizado.
http://www3.brasildefato.com.br/v01/agencia/entrevistas/201co-brasil-gasta-algo-em-torno-de-us-1-bilhao-por-ano-com-o-pagamento-de-licencas201d/
Nenhum comentário:
Postar um comentário